sábado, 20 de junho de 2015

OS EXAMES, A OPINIÃO PÚBLICA, OS NEGÓCIOS, OS MEDIA, A ESCOLA-FÁBRICA


   Chegaram os exames e, como sempre, neste país que teima em continuar no século XX, fala-se em preparação para os exames, dá-se voz aos negócios dos centros de explicações, sublinha-se a ideia antiquada de disciplinas maiores e menores (como as artes, lembram-se dos grafities e do rap?!...), entrevista-se alunos e professores, enfim, cria-se um ambiente stressante para vender notícias.
    Nunca ou muito raramente se diz que os exames apenas valem 30%!
   Um aluno do secundário que vá a exame com 11 numa disciplina, o que é facílimo (pois ainda se fazem testes copiáveis que apenas apelam a conteúdos!), só precisa de ter 6 no exame; quem for com 14, pode ter zero e fica aprovado naquela disciplina!
   Há associações de professores a dizerem asneiras de calibre tão anedótico que mete dó pensar que são docentes: que o poema de Sophia Bach Segóvia Guitarra (exame de Português do 12º ano) não vem nos manuais e que os alunos desconheciam, que exigia muita concentração e que a sua análise era subjetiva!Vejam só a enormidade! Se um aluno aprende a ler e a escrever e, no fim, tem que provar que sabe ler e escrever … ai que d’el rei que teve que ler um texto que desconhecia e escrever sobre a Primavera, quando foi formatado para escrever sobre o Verão?! E desde quando interpretar é objetivo? Desde quando os exames (todos, todos) podem não exigir concentração?!
   Por acaso os negócios de explicadores já perceberam que os nossos exames exigem cada vez mais o desenvolvimento de competências? Aquela dica do «pode sair isto e aquilo» morreu! Têm que os treinar lenta e gradualmente para o imprevisto, a capacidade de resolver problemas e de aplicar conceitos e linguagem científica e, sobretudo, transferir conhecimentos. Ai Edgar Morin, que tanto ensinas, mas poucos te ouvem!...
   O século XXI não é o século só da informação, ou melhor, por ser cada vez mais o século de toneladas de informação, temos que redimensionar a escola para o desenvolvimento de competências no sentido de cada aluno saber trabalhar criticamente a informação, transformando-a em conhecimento. E isso não se faz nas semanas ou mesmo nos meses que antecedem os exames!
   É lamentável que seja o IAVE a dar o passo nesse sentido, fabricando exames que suscitam aquele espanto: estudaram tanto para só sair isto! Ainda bem que o faz, mas devia ser o contrário, a mudança devia antecipar-se às instituições; as escolas, os pais e a sociedade civil é que deviam ter invertido este ciclo, mas, afinal continuam agarrados à escola-fábrica e suas maravilhas anacrónicas.
   E porquê? O que leva a que as escolas, em vez de serem motor de mudança, se atrasem tanto em relação à mudança?
   Evidentemente, a resposta é complexa, como tudo em Educação…mas não é apenas a formação inicial que está a falhar, como se insinua por aí! Os jovens que conseguem chegar hoje ao ensino estão realmente muito melhor preparados do que a geração anterior! Não me refiro à quantidade, pois como sabemos, só neste país é que se chama licenciatura ao bacharelato e mestrado à licenciatura…não, refiro-me à atualização pedagógica e à experiência no terreno; um jovem professor, antes de conseguir chegar ao quadro de uma escola, já fez tanta recruta que tem mais traquejo do que alguns da minha geração que só conheceram uma ou duas escolas e isso faz a diferença.
   Um factor que está a emperrar a mudança é ó refúgio no paradigma burocrático e só se refugia na burocracia quem não sabe. Ora, sem querer generalizar, ainda temos uma geração de diretores que chegou lá por motivos mais ou menos pessoais (não querer ser colocado longe ou mesmo por não ter vaga para lecionar) e por lá foi ficando; como este país sempre se regeu pela máxima futebolística, foram ficando, habituaram-se e dirigem conselhos pedagógicos constituídos à margem da lei; a lei é clara: para coordenador de departamento devem ser indicados os docentes com formação em supervisão pedagógica; só se não existirem, é que se indica outros…mas faz-se exatamente o oposto!
    Porquê?
    Porque iriam atrapalhar, iriam contrariar o paradigma burocrático e isso iria causar mudança e a mudança gera stress e nós temos tanto MEDO DE EXISTIR!...

terça-feira, 19 de maio de 2015



EXAMES DO 4º ANO


Vale a pena refletir sobre o show mediático em torno dos exames do 4º ano.
Pais e avós a incutirem stress nas crianças, jornalistas a fazerem perguntas anacrónicas do género: desde quando te preparaste para este exame» e respostas inteligentes dos miúdos: desde o início!
E associações de professores a apontarem defeitos à século XX: «havia perguntas de interpretação que implicavam mais do que uma opção certa e os alunos estão habituados a escolher apenas uma!»
Faz-me lembrar uma crítica a um exame nacional de História por haver uma pergunta, cuja resposta implicava que os alunos transferissem conhecimentos de uma unidade para outra!
Será que estes docentes não leram Edgar Morin?!
Será que pensam que preparar alunos, futuros cidadãos, é formatá-los para a repetição? Estar preparado para um exame, é estar preparado para fazer o que já se fez?!
E a preparação para situações novas? E o treino para o desconhecido? E a adaptação ao inesperado?

 Convido a uma reflexão sobre este texto de Morin:

http://pgl.gal/os-7-saberes-necessarios-a-educacao-do-futuro-segundo-edgar-morin/





terça-feira, 28 de abril de 2015

DO TABACO QUE CURAVA AOS CHARROS QUE ENLOUQUECEM…


A propósito de uma investigação de Tiago Reis Marques sobre os atuais efeitos da canábis, lembrei-me de recuar aos tempos em que o tabaco foi introduzido na Europa para curar enchaquecas e depois foi o que se viu: hoje, um cigarro tem tantas substâncias químicas que já ninguém se lembra dos seus dons terapêuticos iniciais!
Assim, a ciência comprovou que, hoje, a erva já nada tem a ver com aquele produto natural que provocava fome e riso e raramente viciava. Hoje a canábis está geneticamente adulterada e contém, em maior ou menor grau, níveis de THC capazes de provocar graves dependências psicológicas (a dependência física sempre a mais fácil de curar!) e, sobretudo, esquizofrenia.
E o pior é que o risco desta substância é desvalorizado, precisamente devido ao mito de que é inócua! Talvez fosse há umas décadas. Mas hoje, antes pelo contrário! Já ultrapassa a heroína! E ninguém explica isto aos jovens!...
Tal como o tabaco potencia o risco de cancro no pulmão, também a canábis, potencia, cinco vezes mais, as doenças mentais. As novas tecnologias relacionadas com a neuroimagem permitiram observar claramente cérebros de consumidores e revelaram, sem qualquer sombra de dúvida, que há diminuição da massa cinzenta, o que provoca detioração do funcionamento cognitivo.
A interrupção do consumo, seguida de psicoterapia (sem necessidade de internamento) pode reverter a situação, mas, nalguns casos, não. Tudo depende do tempo de dependência. Um dos principais sinais de dependência é quando o consumidor já consome isolado no seu quarto e não socialmente e, sobretudo, quando já o faz diariamente ou quase.
Pretendo com este post alertar quem possa ajudar alguém, esclarecendo consumidores e, eventualmente, convencendo-os a iniciarem tratamento enquanto podem. Não é fácil dialogar com eles, eu sei, mas tentem!...


Ler mais:
 http://www.asbeiras.pt/2015/03/tiago-reis-marques-e-o-melhor-jovem-investigador-na-area-da-esquizofrenia/


domingo, 12 de abril de 2015

O NOVO MODELO DE ENSINO NA FINLÂNDIA
OU A EXPORTAÇÃO DE UM MODELO PORTUGUÊS?



PORQUÊ ESTE SILÊNCIO EM TORNO DA ESCOLA DA PONTE QUE EXISTE NO NOSSO PAÍS HÁ 40 ANOS E COM SUCESSO?
QUE PAÍS É ESTE QUE EXPORTA PARA O BRASIL O FUNDADOR DA ESCOLA DA PONTE E AGORA «INFORMA-NOS» QUE A FINLÂNDIA VAI IMPLEMENTAR UM INOVADOR MÉTODO QUE ENSINA POR TÓPICOS E ABOLE AS DISCIPLINAS?!
FAZ-NOS LEMBAR AQUELES TEMPOS EM QUE OS NOSSOS TÊXTEIS ERAM CONSUMIDOS EM PORTUGAL SOB ANONIMATO, CASO CONTRÁRIO NINGUÉM OS COMPRAVA!
SERÁ QUE DIZENDO QUE AQUELE MODELO VEM DA FINLÂNDIA, OS PORTUGUESES, FINALMENTE, VÃO REPARAR NA ESCOLA DA PONTE?
OXALÁ QUE SIM…E, JÁ AGORA, SEM O ÚNICO ASPETO QUE NÃO PERTENCE AO MODELO DA ESCOLA DA PONTE: O OBJETIVO DE PREPARAR PARA O MERCADO!...
NÃO, PARA JOSÉ PACHECO, O ENSINO É NOBRE DEMAIS PARA TER O TACANHO OBJETIVO DE PREPARAR PARA O MERCADO!
ESSA PARTE FICA PARA A FINLÂNDIA…

CONSULTAR:
http://www.escoladaponte.pt/site/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=279&view=finish&cid=18&catid=3
http://www.escoladaponte.pt/docs/Regulamento_Interno_09.pdf
http://laurindaalves.blogs.sapo.pt/211186.html
http://www.escoladaponte.pt/docs/Autoavaliacao_da_Escola_Basica_da_Ponte.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_da_Ponte


sábado, 11 de abril de 2015


SAMPAIO DA NÓVOA OU UM NOVO CONCEITO DE DESCONHECIDO!...

Tenho andado a apreciar o estranho modo como a nossa comunicação social acolheu a ideia de Sampaio da Nóvoa vir a candidatar-se à Presidência da República.
 Dei comigo a pensar que já fizeram a oitava revisão da Constituição e eu não dei por nada!
Mas afinal ele é desconhecido porquê? Curiosamente, nem os comentadores de serviço ousam contestar esta mentira repetida!...
Será que, tal como as redes sociais impuseram um ridículo novo conceito de amigo, também existe um novo conceito de conhecido?
 Quem não está inscrito num partido é, automaticamente, desconhecido?
 E, desde quando, ser conhecido é um requisito importante para alguém se candidatar à presidência?
Mas acontece que Nóvoa nem sequer é um desconhecido!
É um grande humanista, um pedagogo, um grande especialista em Educação. A Educação não é a base de qualquer Democracia que se preze?
 Porquê este ruído?
Queremos mais um Presidente pragmático e partidário?
 Ou será que achamos que ser político é ser partidário?
 Esta pseudo querela faz-me lembrar a infeliz tirada daquela jornalista que introduziu a notícia sobre o Banco de Portugal e os spreads, dizendo que se tratava de um assunto nada político.
 Obviamente, ela queria dizer que o assunto não era partidário!
 E é este o problema: neste país, passou-se de um extremo ao outro. Antes, os partidos eram vistos como nocivos. Agora, nocivos são os cidadãos não partidários!
Têm medo de quê?