domingo, 16 de novembro de 2014


VI FÓRUM SOCIAL DE PALMELA


No passado dia 13 de novembro, a Biblioteca Municipal de Palmela foi palco de um importante encontro, promovido pelo CLASP (Conselho Local de Ação Social de Palmela), subordinado ao tema Portugal 2020: Que Oportunidades para um Crescimento Inclusivo?
Na parte da manhã, na sessão de abertura, o Dr. Adílio Costa, Vereador e Presidente do CLASP, falou-nos sobre a Rede Social de Palmela, seguido de outros distintos oradores, nomeadamente o nosso Presidente da Autarquia, Dr. Álvaro Amaro.
Logo de seguida, os Engenheiros Luís Machado e Demétrio Alves apresentaram aspetos técnicos da CCDR-LVT (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo) e da AML (Área Metropolitana de Lisboa). Após um breve intervalo, foi a vez da Drª Manuela Sampaio da ADREPES (Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal). E assim, após um pequeno debate, terminou o primeiro painel, moderado pelo representante da Autarquia, Dr. Joaquim Carapeto, dedicado ao tema: Portugal 20 – Operacionalização na Região de Lisboa. Estratégias e Instrumentos Locais.
Após o almoço, decorreu o segundo painel, intitulado: As Práticas e as Experiências Inspiradoras, moderado pela Drª Sandra Araújo, representante da EAPN (Rede Europeia Anti Pobreza Portugal).
A primeira oradora, Drª Carlota Quintão, da A3S (Associação para o Empreendedorismo Social e Sustentabilidade do Terceiro Setor), além de ter desafiado os presentes para a definição de Rede Social, deu-nos a panorâmica histórica do conceito de associativismo e apresentou o modelo da Inovação Socia e seus estádios em espiral. Depois referiu algumas instituições com as quais trabalha, como a Casa do Trabalho e a Cooperativa de Solidariedade D. Leonor.
A segunda oradora, Drª Cláudia Pedra, apresentou o tão dinâmico, mas ainda pouco conhecido projeto designado BVS (Bolsa de Valores Sociais), plataforma que produz «lucro social» e já beneficiou mais de 28 000 pessoas em poucos anos. Os projetos são cotados como se da Bolsa se tratasse e qualquer pessoa pode comprar ações (custam 1 euro), apesar de terem empresas fidelizadas. Falou-nos de vários projetos em concreto, como Cozinhar o Futuro, ADENORMA, Projeto Ouço, Logo, Vejo e outros. Para mim, este foi o momento mais interessante, tal como o do debate que se seguiu.
Após uma emocionante atuação de jovens da APPACDM, foi a vez da conferência A Rede Social e o Acordo de Parceria 14-20, proferida pelos representantes do IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos), Drª Catarina Pereira e Dr. Rui Godinho; foi também muito interessante e colocou a tónica no envolvimento das populações, sublinhando o papel pioneiro da nossa autarquia neste âmbito. Foram apontados outros desafios contemporâneos, como a Governança Multinível, a Orientação para os Cidadãos, a Integração Territorial de Políticas e a orientação para os Resultados. Sobre este aspeto, a assistência manifestou preocupação com esta onda focada em resultados e os efeitos perversos que podem daí advir, dando mesmo o exemplo das escolas que trabalham em função de rankings, formatando alunos e rejeitando os que poderão inquinar os resultados, caminhando para a exclusão, em vez da inclusão pretendida.
Relativizou-se estes medos, convocando os conceitos de ciclo avaliativo e teoria da programação que não têm sido levados a sério.
No fundo, como a ciência social é, em termos históricos, ainda muito recente, o positivismo e a obsessão pelo quantitativo ainda imperam. Confunde-se, muitas vezes, fins com meios e o segredo está no modo como se deverá traçar os objetivos e ainda no uso da avaliação criterial. A medição deve fazer-se em função do ponto de partida, nunca esquecendo que a meta deve ser o mais ambiciosa possível, mas os objetivos deverão ser sempre alcançáveis.
TURMAS «A» E TURMAS «F» …



O título parece estranho, não é?
Pois é, mas toda a gente sabe que, há uns anos a esta parte, com o acesso ao ensino de cada vez mais pessoas (o que é ótimo), começou a hierarquização artificial dos cursos do ensino secundário (o que é péssimo).
Mal acabavam o 9º ano, os melhores alunos eram afugentados (pelas famílias e pelos próprias escolas, o que é ainda mais lamentável) das áreas consideradas menores, por terem menor grau de empregabilidade futura e, assim, esvaziaram-se as Humanidades e as Artes, por mero mercantilismo e pato bravismo!
 Criaram-se turmas A, com as ditas elites, e turmas F/G/H com os «restos»! Uma espécie de bipolarização interna, correspondendo grosso modo à bipolarização externa entre escolas públicas e privadas, esta também um mito!
A par de tudo isto, houve docentes que se atualizaram, às suas custas, e outros que continuaram como estavam!
As gestões das escolas tornaram-se mais profissionais … ou talvez não!...
 A legislação foi mudando e surgiu a obrigatoriedade de se nomear para cargos de coordenação quem tenha formação em supervisão pedagógica!
Mas, como neste país à beira mar plantado, os traumas de séculos de inquisição e meio século de fascismo, associam, erradamente, supervisão a inspeção, ignorou-se aquela cláusula e continuou o critério dito mais democrático de escolha dos decisores pedagógicos. Continuou-se a colocar nos orgãos importantes pessoas muito esforçadas e empenhadas, mas nem sempre atualizadas. Aquela máxima do «faz-se o que se pode e com muito boa vontade»… nem sempre chega!
E agora? Já temos as turmas A carregadas de alunos mal preparados, mal comportados e não sabemos o que fazer com eles!
Culpa-se as famílias?
Culpa-se os jovens?
Assume-se a natural heterogeneidade da população estudantil?
Giza-se estratégias adaptadas ao século XXI?
Ou mete-se o lixo para debaixo do tapete?
Penso que os docentes mais jovens têm uma melhor preparação, pois os que conseguem já entrar no sistema, são mesmo bons, são melhores do que os da geração anterior, porque foram preparados de outro modo. Estão mais atualizados cientificamente e têm um maior respeito pelas pedagogias e pelas didáticas. Porém, não terão, nos anos mais próximos, qualquer poder de decisão ou mesmo de pressão, devido a uma cultura escolar baseada na antiguidade, na identidade/bairrismo e em outros pressupostos mais ou menos lobistas!
Os antigos docentes que se atualizaram são uma minoria e muitos estão na prateleira, por motivos óbvios.
Se estes paradoxos não forem rapidamente assumidos, debatidos, minimizados, ultrapassados…se, parafraseando João Gil, continuarmos a ter Medo de Existir, dificilmente nos adaptaremos aos verdadeiros desafios da sociedade do conhecimento!