TURMAS «A» E TURMAS «F» …
O título parece estranho, não é?
Pois é, mas toda a gente sabe que, há uns anos a esta parte, com o
acesso ao ensino de cada vez mais pessoas (o que é ótimo), começou a
hierarquização artificial dos cursos do ensino secundário (o que é péssimo).
Mal acabavam o 9º ano, os melhores alunos eram afugentados (pelas
famílias e pelos próprias escolas, o que é ainda mais lamentável) das áreas
consideradas menores, por terem menor grau de empregabilidade futura e, assim,
esvaziaram-se as Humanidades e as Artes, por mero mercantilismo e pato
bravismo!
Criaram-se turmas A, com as
ditas elites, e turmas F/G/H com os «restos»! Uma espécie de bipolarização
interna, correspondendo grosso modo à
bipolarização externa entre escolas públicas e privadas, esta também um mito!
A par de tudo isto, houve docentes que se atualizaram, às suas custas,
e outros que continuaram como estavam!
As gestões das escolas tornaram-se mais profissionais … ou talvez
não!...
A legislação foi mudando e
surgiu a obrigatoriedade de se nomear para cargos de coordenação quem tenha
formação em supervisão pedagógica!
Mas, como neste país à beira mar plantado, os traumas de séculos de
inquisição e meio século de fascismo, associam, erradamente, supervisão a
inspeção, ignorou-se aquela cláusula e continuou o critério dito mais
democrático de escolha dos decisores pedagógicos. Continuou-se a colocar nos orgãos
importantes pessoas muito esforçadas e empenhadas, mas nem sempre atualizadas.
Aquela máxima do «faz-se o que se pode e com muito boa vontade»… nem sempre
chega!
E agora? Já temos as turmas A carregadas de alunos mal preparados, mal
comportados e não sabemos o que fazer com eles!
Culpa-se as famílias?
Culpa-se os jovens?
Assume-se a natural heterogeneidade da população estudantil?
Giza-se estratégias adaptadas ao século XXI?
Ou mete-se o lixo para debaixo do tapete?
Penso que os docentes mais jovens têm uma
melhor preparação, pois os que conseguem já entrar no sistema, são mesmo bons,
são melhores do que os da geração anterior, porque foram preparados de outro
modo. Estão mais atualizados cientificamente e têm um maior respeito pelas
pedagogias e pelas didáticas. Porém, não terão, nos anos mais próximos,
qualquer poder de decisão ou mesmo de pressão, devido a uma cultura escolar
baseada na antiguidade, na identidade/bairrismo e em outros pressupostos mais
ou menos lobistas!
Os antigos docentes que se atualizaram são
uma minoria e muitos estão na prateleira, por motivos óbvios.
Se estes paradoxos não forem rapidamente
assumidos, debatidos, minimizados, ultrapassados…se, parafraseando João Gil,
continuarmos a ter Medo de Existir, dificilmente
nos adaptaremos aos verdadeiros desafios da sociedade do conhecimento!
Pois, as ditas turmas de elite das escolas públicas são uma dupla aberração: nem são de elite, são apenas meninos formatadinhos com explicadorzinhos a os fazerem vomitar matérias, erradas e ultrapassadas, por vezes...e são frustadinhos de colégios privados: ou seja, se tivessem dinheiro, gostariam de ser ainda mais formatadinhos e destinadinhos ao sucesso de pacotilha...
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