domingo, 16 de novembro de 2014

TURMAS «A» E TURMAS «F» …



O título parece estranho, não é?
Pois é, mas toda a gente sabe que, há uns anos a esta parte, com o acesso ao ensino de cada vez mais pessoas (o que é ótimo), começou a hierarquização artificial dos cursos do ensino secundário (o que é péssimo).
Mal acabavam o 9º ano, os melhores alunos eram afugentados (pelas famílias e pelos próprias escolas, o que é ainda mais lamentável) das áreas consideradas menores, por terem menor grau de empregabilidade futura e, assim, esvaziaram-se as Humanidades e as Artes, por mero mercantilismo e pato bravismo!
 Criaram-se turmas A, com as ditas elites, e turmas F/G/H com os «restos»! Uma espécie de bipolarização interna, correspondendo grosso modo à bipolarização externa entre escolas públicas e privadas, esta também um mito!
A par de tudo isto, houve docentes que se atualizaram, às suas custas, e outros que continuaram como estavam!
As gestões das escolas tornaram-se mais profissionais … ou talvez não!...
 A legislação foi mudando e surgiu a obrigatoriedade de se nomear para cargos de coordenação quem tenha formação em supervisão pedagógica!
Mas, como neste país à beira mar plantado, os traumas de séculos de inquisição e meio século de fascismo, associam, erradamente, supervisão a inspeção, ignorou-se aquela cláusula e continuou o critério dito mais democrático de escolha dos decisores pedagógicos. Continuou-se a colocar nos orgãos importantes pessoas muito esforçadas e empenhadas, mas nem sempre atualizadas. Aquela máxima do «faz-se o que se pode e com muito boa vontade»… nem sempre chega!
E agora? Já temos as turmas A carregadas de alunos mal preparados, mal comportados e não sabemos o que fazer com eles!
Culpa-se as famílias?
Culpa-se os jovens?
Assume-se a natural heterogeneidade da população estudantil?
Giza-se estratégias adaptadas ao século XXI?
Ou mete-se o lixo para debaixo do tapete?
Penso que os docentes mais jovens têm uma melhor preparação, pois os que conseguem já entrar no sistema, são mesmo bons, são melhores do que os da geração anterior, porque foram preparados de outro modo. Estão mais atualizados cientificamente e têm um maior respeito pelas pedagogias e pelas didáticas. Porém, não terão, nos anos mais próximos, qualquer poder de decisão ou mesmo de pressão, devido a uma cultura escolar baseada na antiguidade, na identidade/bairrismo e em outros pressupostos mais ou menos lobistas!
Os antigos docentes que se atualizaram são uma minoria e muitos estão na prateleira, por motivos óbvios.
Se estes paradoxos não forem rapidamente assumidos, debatidos, minimizados, ultrapassados…se, parafraseando João Gil, continuarmos a ter Medo de Existir, dificilmente nos adaptaremos aos verdadeiros desafios da sociedade do conhecimento!


1 comentário:

  1. Pois, as ditas turmas de elite das escolas públicas são uma dupla aberração: nem são de elite, são apenas meninos formatadinhos com explicadorzinhos a os fazerem vomitar matérias, erradas e ultrapassadas, por vezes...e são frustadinhos de colégios privados: ou seja, se tivessem dinheiro, gostariam de ser ainda mais formatadinhos e destinadinhos ao sucesso de pacotilha...

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