HISTÓRIA AO VIVO
Iniciei este blog com a caça ao
anacronismo, o pecado maior do historiador.
No início do mês, liguei para a RTP
Madeira e fiquei maravilhada com uma iniciativa meritória que as escolas de
Machico realizam anualmente, desde 2006 e que já conseguiram envolver a
comunidade, de tal modo, que até há autocarros de turismo direccionados para aquela
cidade, para participarem ativamente na iniciativa de História ao vivo.
O espetáculo era de tal modo
interessante que até eu me prendi aos aspetos lúdicos e só reparei nos
anacronismos quando o jornalista perguntou a um participante se não era
interessante aprender assim História, de um modo acessível e prático?!
Aí caí em mim e reparei nos inúmeros anacronismos,
a começar por ser um mercado quinhentista, mas estar a recriar um acontecimento
datado de 1440 - a elevação de Machico a capitania.
Era tão simples, bastava mudar a
designação para mercado quatrocentista!
O enviado do rei chegava numa nau, havia
venda popular de especiarias orientais, enfim, tudo ainda na primeira metade do
século XV?!
Nada de grave, dirão…o que importa é que
foi giro!!!...
E se daqui a um século alguém
organizasse uma atividade divertida sobre o fim da primeira guerra mundial,
por exemplo, e aparecesse o Trump a escrever tweets, o Macron a encontrar-se com
a senhora Merkel, o Marcelo a dar beijinhos aos sem abrigo…?????
Tenho pena que tanto trabalho e tão
envolvente e partindo a iniciativa de professores de História, não prime pelo
rigor e coloque o entretenimento acima do rigor científico.
Nunca me esqueço da entrevista de
Vitorino Magalhães Godinho ao JL, no início deste século, em que alertava para
os perigos da História espetáculo, referia o pecado do anacronismo e a aparente
facilidade da História, lamentando que toda a gente achasse que sabe História
só porque ela usa a nossa linguagem, não recorrendo a fórmulas nem ao solfejo
nem a códigos.