terça-feira, 12 de junho de 2018


HISTÓRIA AO VIVO


Iniciei este blog com a caça ao anacronismo, o pecado maior do historiador.
No início do mês, liguei para a RTP Madeira e fiquei maravilhada com uma iniciativa meritória que as escolas de Machico realizam anualmente, desde 2006 e que já conseguiram envolver a comunidade, de tal modo, que até há autocarros de turismo direccionados para aquela cidade, para participarem ativamente na iniciativa de História ao vivo.
O espetáculo era de tal modo interessante que até eu me prendi aos aspetos lúdicos e só reparei nos anacronismos quando o jornalista perguntou a um participante se não era interessante aprender assim História, de um modo acessível e prático?!
 Aí caí em mim e reparei nos inúmeros anacronismos, a começar por ser um mercado quinhentista, mas estar a recriar um acontecimento datado de 1440 - a elevação de Machico a capitania.
Era tão simples, bastava mudar a designação para mercado quatrocentista!
O enviado do rei chegava numa nau, havia venda popular de especiarias orientais, enfim, tudo ainda na primeira metade do século XV?!
Nada de grave, dirão…o que importa é que foi giro!!!...
E se daqui a um século alguém organizasse uma atividade divertida sobre o fim da primeira guerra mundial, por exemplo, e aparecesse o Trump a escrever tweets, o Macron a encontrar-se com a senhora Merkel, o Marcelo a dar beijinhos aos sem abrigo…?????

Tenho pena que tanto trabalho e tão envolvente e partindo a iniciativa de professores de História, não prime pelo rigor e coloque o entretenimento acima do rigor científico.
Nunca me esqueço da entrevista de Vitorino Magalhães Godinho ao JL, no início deste século, em que alertava para os perigos da História espetáculo, referia o pecado do anacronismo e a aparente facilidade da História, lamentando que toda a gente achasse que sabe História só porque ela usa a nossa linguagem, não recorrendo a fórmulas nem ao solfejo nem a códigos.