quarta-feira, 23 de agosto de 2017



Ágata é candidata à Câmara Municipal de Castanheira de Pêra 


Sim, é oficial. E qual é o mal?
O mal está nas críticas feitas na base de que a política é para os ditos políticos!
Não gosto da cantora e muito menos gosto da sua família política, mas não posso admitir que se ache que a política não é dos cidadãos!
Também não gosto que a própria diga que não gosta de política. Esta afirmação sim, só por si quase lhe nega o direito a candidatar-se!
A palavra política vem do grego polis, que significa cidade.
Equivale à palavra latina civitas, que gerou a palavra cidadania.
Portanto, política equivale a cidadania e é um erro confundir com partidarismo!
Quando a Ágata diz que não gosta de política, deve querer dizer que não gosta de partidarismos e lamento que a comunicação social, em vez de aproveitar para educar o povo, corra atrás e perpetue o mesmo conceito errado do que é a política.
Somos todos políticos e quem disser o contrário, está a querer dizer que não é cidadão!
Todos somos livres de aderir ou não a partidos, mas, ser ou não ser cidadão, não é uma questão de opção ou de gosto!
Portanto, todos podemos ser candidatos.
Não à política profissionalizada!
Aprendamos com os fundadores da Democracia!...




A PORTO EDITORA E A RESPONSABILIDADE EDUCATIVA




Ainda bem que alguém finalmente pôs a boca no trombone, pois é escandaloso que uma editora com o monopólio quase total de livros escolares e educativos, continue a achar que não há mal algum em publicar histórias para meninos (que devem ser traquinas e escolher profissões de homem!!!) e histórias para meninas (de fadas, princesas e cor de rosa!!!).
Basta entrar em qualquer supermercado e abundam livros próprios do século XIX, mas no interior de manuais adotados e em vigor (como pode o Ministério da Educação permitir?!) existem situações, no mínimo caricatas, onde a perpetuação da desigualdade de género está às claras.
Onde estão as famílias e as associações de pais? E como escolhem os docentes tais manuais? Não se apercebem? Onde estão os formadores? Será que os centros de formação de professores só promovem formações de exel e companhia?!...
Ainda bem que alguém reparou nas Fichas de Atividades de verão. Talvez agora, com a mediatização do problema, finalmente se atue.
Mas, há outras editoras com pecados graves neste capítulo!
Experimentem analisar, por exemplo, o Manual de Matemática da Santillana para o 2º ano, página 128 e outras...




domingo, 4 de junho de 2017

MAIS UM FERIADO MUNICIPAL ANTI MUNICÍPIO!...






Palmela celebra, há décadas, o seu Dia Municipal, precisamente no dia em que faz anos que D. Manuel I ofereceu o Foral Novo, Foral centralizador.
Além de coincidir com o Dia da Criança, o que ofusca um dia tão importante, historicamente está errado e toda a gente sabe, ou melhor, os responsáveis sabem!...
Então, não se muda porquê?
Como docente de História, estou a adorar, pois permite que motive alunos para o debate e o espírito crítico!
Foi o que aconteceu na última sexta-feira, na turma E do 10ºano, uma turma que ainda não conseguiu entrar bem no espírito do secundário, ou melhor, parecia que ainda estava a funcionar à básico, mas a realidade desmentiu.
Foi lindo de ver!
Cheguei à aula e as mesas estavam colocadas em modo debate.
O Artur e o Jorge assumiam o comando e conduziram a aula com mestria.
Surgiram críticas construtivas, dezenas de propostas alternativas, quase todos os alunos pediram e usaram, ordeiramente, da palavra e a aula pareceu curta para tão intensa discussão.
Marcou-se novo debate, desta vez sob o signo da Multiculturalidade/Interculturalidade, unindo passado e presente, usando o mote do tema a leccionar, Encontro de Culturas na altura da Expansão Marítima Europeia e relacionando com a Globalização actual, as Migrações e os problemas transnacionais daí decorrentes.
Fico a aguardar, na certeza de que as ditas turmas más, seriam excelentes, caso o dito método da Finlândia (entenda-se, da Escola da Ponte, do grande José Pacheco, exportado para o Brasil porque esta terra é madrasta para quem ousa inovar demais!) fosse implementado!...

segunda-feira, 22 de maio de 2017





O Lions Clube de Palmela realizou ontem, na Biblioteca Municipal, um encontro muito interessante e a minha participação teve como título «Os Estereótipos de Género na Escola». Comecei por clarificar os conceitos de estereótipo e de género, sobretudo porque ainda é muito vulgar pensar-se que todos os estereótipos são negativos e, sobretudo, que os de género vitimizam apenas a mulher, o que não é verdade (pensemos, por exemplo, na falta de formação dos juízes que ainda atribuem mais de 90% da guarda parental às mães, apesar da clareza da lei sobre guarda conjunta e igualdade na responsabilidade parental!).
 Após deixar bem claro que género ultrapassa muito a questão biológica, sendo uma construção cultural e social, fiz uma breve síntese da situação da mulher, desde a Antiguidade até hoje, dando ênfase aos avanços do II pós-guerra. O meu enfoque situou-se na Plataforma de Pequim e nas áreas identificadas, o que acelerou muito a luta pela igualdade. Abordei ainda o conceito de empoderamento, nas duas abordagens mais correntes.
Numa segunda parte, após a comparação entre a situação da mulher portuguesa da Primeira República e a do Estado Novo, analisei a escola no Portugal de hoje, chamando a atenção para o actual conceito de currículo, destacando a importância do currículo oculto e dando vários exemplos concretos. Defendi também o currículo da empatia, que permite desafiar preconceitos, implementar experiências desafiadoras e promover a mudança.
Chamei a atenção para os excelentes trabalhos da CIG (Comissão para a Igualdade de Género) e para o desprezo a que as escolas normalmente votam as suas excelentes sugestões nos seus Guiões adaptados a cada ciclo de ensino.
Fiz a análise de alguns manuais atuais que ainda apresentam marcas de desigualdade e mesmo situações caricatas como exercícios de matemática em que todos os alunos de uma turma são rapazes … como se a coeducação não existisse há décadas ou como se se separasse a educação para os valores da aprendizagem de cada disciplina!...
Na parte final, apresentei as minhas conclusões:
 Não podemos dizer que estamos muito atrasados em relação à média dos outros países europeus. 
 A nossa lei de Bases do Sistema Educativo consigna a coeducação e a igualdade de oportunidades entre os sexos. 
 O currículo formal já mudou.
 Já não temos um sistema genderizado. 
 Mas, na prática, ainda persistem estereótipos de género. 
 A docência está entregue a mulheres, mas as lideranças são masculinas!
 Os próprios nomes das escolas são essencialmente masculinos!
 Os manuais ainda apresentam alguma invisibilidade e assimetria das mulheres.
 Iniciativas soltas em educação não surtem efeitos significativos.
 É essencial trabalhar em rede e no mesmo sentido. 
 A escola tem que ter coragem de remar contar a maré! 
 Há necessidade de intervir precocemente na educação das crianças de modo a contribuir de forma positiva para a construção da identidade de género.
 É urgente que se investa na Educação Familiar/Parental.
  Outro aspeto essencial é a formação de professores, tanto inicial, como contínua. 
 É preciso integrar a dimensão de género na sua formação.
 Fornecer-lhes uma base teórica sólida. 
 Falta formação de professores no sentido de criar sensibilidade para novas práticas e para o uso dos materiais pedagógicos já existentes. 
 Porque… 
 A mudança legislada não resulta por si só…
 Mudar mentalidades é um processo complexo e moroso…


EIS O CONTEÚDO DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS SLIDES QUE USEI

¢Apesar do conceito de estereótipo ser relativamente recente, a palavra vem do grego e resulta da soma de stereos e typos, o que se traduz por «impressão sólida».
¢Estereótipos são pressupostos, generalizações, conjuntos bem organizados de crenças.
¢O seu papel nem sempre é negativo, pois os estereótipos podem assumir uma função adaptativa e permitir organizar a complexidade do social.
¢Podem ser apenas um ponto de partida.
¢ E nem todos os estereótipos são negativos:
¢Os africanos têm jeito para a música.

¢¢Os estudos tradicionais das diferenças entre os sexos haviam tentado provar que as características que normalmente se atribuem aos dois sexos derivam de diferenças biológicas.
¢Nos anos 70 do século XX, trabalhos pioneiros como os de Margaret Mead, Simone de Beauvoir e Ann Oakley permitiram clarificar que o género difere do sexo, porque ultrapassa a questão biológica.
¢Como é evidente, Homem e Mulher são biologicamente diferentes, mas isso não os torna desiguais.
¢ A feminilidade e a masculinidade são construções que diferem no espaço e no tempo, em função das especificidades culturais.
¢Trata-se de prescrições normativas e proibitivas de ser e de se comportar.
¢O género atravessa todas as instâncias do social: família, trabalho, relações interpessoais…
¢A estereotipia de género desenvolveu-se de um modo dicotómico, excluindo-se reciprocamente, à semelhança do que ocorre com as diferenças sexuais.
¢Héritier (2002) salienta que o cérebro das mulheres apresenta as mesmas características do cérebro dos homens. Ocupa o mesmo lugar, apresenta as mesmas formas, as mesmas circunvoluções e desempenha as mesmas funções.
¢Mas a inculcação de valores foi eficaz e durou milénios, portanto, é utópico achar que a igualdade plena vai ser atingida para já.
¢Trata-se de uma meta, talvez ainda idílica
¢Lutar contra os estereótipos de género é uma necessidade urgente nas sociedades atuais.
¢Não se trata sequer de uma bandeira ideológica.
¢Ultrapassa, e muito, o feminismo.
É uma questão de direitos humanos e de desenvolvimento económico.
¢Eva tentou Adão…
¢Na Antiguidade, a mulher aparece nos mitos como a causadora do mal…Mito de Pandora: é a mulher que levanta a tampa e a maldade espalha-se pelo mundo.
¢Aristóteles: a mulher é um corpo poroso e imperfeito, um homem que não chegou a ser acabado.
¢Em Roma nem tinha nome pessoal. Adaptava-se o nome do pai…não tem identidade, nem existência. O pai pode forçá-la ao divórcio, mas por conveniência económica, pode vendê-la como escrava, etc..
¢Havia até um tutor legal, por se considerar que a mulher não é suficientemente inteligente para agir no seu próprio interesse.
¢A palavra noiva vem de véu=a que põe o véu, para o usar.
¢Matrimónio, de matrona, a que casa para ser mater família=mãe. A mesmo étimo de maternidade.
¢Ovídeo, Arte de Amar (Livros I, II, III – século I): define a estética feminina e a masculina - técnicas de sedução masculina; conselhos às mulheres sobre penteados, roupas, cosmética.
¢Na Idade Média… provérbios como este «Ao bom e ao mau cavalo, a espora; à boa e à má mulher, um senhor e, de vez em quando, um bastão».
¢S. Tomás de Aquino – século XIII - «A mulher foi criada para ajudar o homem apenas no ato da procriação, porque em todas as outras tarefas o homem encontrará bem melhor apoio fora dela».
¢Mesmo quando se avança algo na dignificação da mulher, é nestes termos: «Se as mulheres não fossem boas e os seus conselhos não fossem considerados inúteis, Deus não as teria criado como ajuda do homem, mas sobretudo, como causa do mal» - Chaucer, filósofo inglês do século XIV.
¢No Renascimento, a beleza deixa de ser temida, como fora na Idade Média.
¢O nu feminino é assumido…até surgem as Virgens do Leite…
¢Mas a beleza exterior era sinal de uma bondade interior…
¢Foi precisamente nesta época que se estruturou a feminilidade: a delicadeza e a ternura em contraste com a potente virilidade masculina:
¢Castiglioni, Cortesão - «Uma mulher não deve, de forma alguma, parecer-se com o homem, na sua conduta, nas suas maneiras, palavras, gestos ou atitudes. Assim como é próprio do homem apresentar um certo ar másculo, de robustez e energia, também é desejável que a mulher mostre uma ternura suave e delicada, dando um toque de doçura feminina a todos os seus movimentos.»
¢O androcentrismo na arte reflete o imaginário das sociedades ocidentais: no Barroco, as Vénus que se olham ao espelho…raramente há homens.
¢Até no tempo do Iluminismo, mesmo os  mais radicais como Rousseau:
¢«As mulheres devem agradar aos homens, ser-lhes úteis, fazer-se amar e honrar por eles; criá-los quando jovens, cuidar deles, quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce, tais são os deveres das mulheres em todas as épocas e o que se deve ensinar-lhes desde a infância» (Emílio, livro V).
¢Em 1888, Renoir dizia que «qualquer mulher artista é simplesmente ridícula»
¢Já no século XX, na Bauhaus, as mulheres lecionavam como auxiliares dos respetivos maridos (mascarou-se com o conceito de casal produtivo) e as que se salientaram foram ostracizadas.
¢Os cursos aprovados não passavam da tecelagem ou, no máximo, design de interiores...Havia mesmo o departamento feminino.
¢Assumia-se que eles eram seres culturais e elas, seres naturais
¢Gropius – O triângulo vermelho como símbolo do masculino/génio e o quadrado azul, matéria, feminilidade…
¢O próprio Surrealismo foi androcentrico – André Breton definiu o Surrealismo como «substantivo masculino» e a mulher aparece como objeto do desejo do homem.
¢Trotula, século XI, textos de medicina tão bons que os historiadores se recusaram a acreditar que eram de uma mulher!
¢Públia Hortênsia de Castro, século XVI, teve que se disfarçar de homem para frequentar a Universidade de Coimbra!
¢Lady Ann Conway, século XVII, escreveu Princípios da Antiga e Moderna Filosofia, mas após a sua morte o nome foi deliberadamente removido da capa e passou a ser entendido como tendo sido escrito por um homem!
¢Catherine Greene, Século XVIII, inventou, construiu e melhorou a máquina descaroçadora de algodão, que tem sido atribuída a Whitney!
¢Miranda Barry, século XIX, teve que se disfarçar de homem para poder estudar medicina em Edimburgo e só se descobriu na hora da sua morte!
¢Rosalind Franklin, já em 1958, investigações sobre a estrutura do ADN permitiram que 3 cientistas continuassem e ganhassem o Nobel, mas o seu nome foi omitido!
¢Sendo o género uma construção, é possível implementar práticas educativas esclarecidas e estratégias promotoras da igualdade de género.
¢O problema é que a educação é um fenómeno complexo.
¢Envolve múltiplos intervenientes.
¢Para educar uma criança é preciso toda a alde¢Implica a socialização primária, que é essencialmente da responsabilidade da família.
¢Na própria gravidez já começa a discriminação/o enxoval, os pontapés vigorosos ou não
¢Os miúdos chegam à escola já com preconceitos.
¢Ouvem músicas como esta de Gabriel o Pensador:
¢ Existem mulheres que são uma beleza / mas quando abrem a boca, hum, que tristeza/ (...) bundinha empinada pra mostrar que é bonita / e a cabeça parafinada pra ficar igual paquita / Loira burra, loira burra, loira burra, loira burra...
¢Na própria escola…bibes, fardas, contos, canções, jogos, desporto, materiais pedagógicos imbuídos de estereótipos de género.
¢Afinal o que é o Currículo?¢ Existem vários Currículos…ou várias camadas…currículo em bolbo
¢Tudo é currículo
¢Até as mensagens afixadas nos corredores, nos pátios, nas salas veiculam estereótipos
¢Currículo Formal e Currículo Real
¢Estamos conscientes do poder do Currículo Oculto?
¢Tudo o que se aprende na escola…por gestos, atitudes, comportamentos…muitas vezes contraditórios com o discurso…
¢Há quem diga que tudo é linguagem, que ensinar qualquer disciplina é um ato linguístico
¢Mesmo o Currículo Formal pode ser lido de modos diversos
¢Prescritivo, rígido, centrado nos conteúdos, dar matéria, avaliar/classificar
¢Desenvolvimento Curricular, Currículo em ação, interativo, dinâmico, em construção, competências, ensinar/aprender
¢Como se trabalha? Há balcanização ou trabalho colaborativo? Estamos conscientes da Colegialidade artificial?
¢debate e reflexão?
¢A CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género) tem publicado uma série de estudos e fornece às escolas Guiões adaptados a cada ciclo de escolaridade, com sugestões de tarefas e materiais pedagógicos excelentes
¢Usa-se os materiais da CIG?
¢A formação inicial dos professores incorpora os protocolos internacionais?
¢Queremos mesmo os pais na escola?
¢Os pais vão à escola pelos motivos corretos?
¢A nossa escola promove a Educação Parental e Familiar?
¢Participação do pai e da mãe nas diferentes atividades diárias dos filhos
¢Promoção da auto confiança das raparigas e rapazes
¢Cooperação entre rapazes e raparigas no desempenho de diversas atividades
¢Oferta de materiais lúdicos e de outro tipo não diferenciado por sexos
¢Encorajamento das raparigas para a exploração de profissões mais típicas no sexo masculino e o inverso
¢Elogiar as raparigas pela sua audácia a enfrentar desafios e a resolver problemas e elogiar os rapazes pelas suas boas maneiras e pela sua capacidade de organização e de arrumação
¢Valorização da opinião dos rapazes e das raparigas nas decisões familiares
¢Participação das raparigas e dos rapazes em modalidades desportivas variadas
¢Os materiais pedagógicos são agentes poderosos no processo de socialização e formação da identidade, sobretudo os manuais.
¢Portugal tem correspondido aos compromissos internacionais no domínio da igualdade de género, através dos PNI (Planos Nacionais para a Igualdade).
¢Objetivo: sensibilizar editoras e escolas para a certificação de manuais sem representações sexistas.
¢No entanto, um olhar clínico ainda permite encontrar algumas marcas.
¢Daí a necessidade de formação, debate, reflexão e vigilância constante.
¢Mesmo havendo movimentos que defendem a escola neutra, sem transmissão de valores…nunca acontece, pois há interação, diálogo…mesmo que os temas fossem asséticos
¢«A eliminação dos estereótipos de género dos manuais escolares e outros materiais pedagógicos só pode ocorrer quando se verificar que a homens e mulheres, ao sexo feminino e ao sexo masculino, é atribuída e associada a mesma diversidade física e psicológica que é inerente ao ser humano, bem como a mesma diversidade de atividades e esferas de atuação, de funções e níveis de participação e ação que marcam a vida em sociedade». Maria Teresa Alvarez Nunes, 2009).
¢Distribuem-se as referências a ambos os sexos de forma equilibrada?
¢No texto? Títulos e subtítulos? Na imagem? As legendas?
¢Ambos aparecem de forma ativa e passiva?
¢Ambos associados a verbos como: fazer, atuar, decidir, exprimir emoções, reagir, interagir, revelar capacidades cognitivas?
¢Identificam-se ambos com situações de:
¢Domínio/dependência
¢Passividade/atividade
¢Transgressão/norma
¢Liderança/seguidismo.
Resultados de uma análise de Manuais atuais do 1º ciclo:
¢Nas imagens, a família sempre a tradicional.
¢Mulheres fazem bolos, dão banho ao bebé, vão comprar comida…
¢A mãe da Teresa foi comprar eletrodomésticos e o sr. Diogo foi comprar um televisor…mas as imagens referentes à mãe da Teresa são: secador, varinha mágica, aspirador, máquina de sumos, etc.
¢Já aparecem mães trabalhadoras, mas…
¢Profissões como mineiro e pescador sempre no masculino…
¢Nas brincadeiras, aparece uma rapariga à baliza, mas excecionalmente.
¢Até o menino que está em casa e observa quantos carros passam na rua!
¢A menina conta pacotes de leite da despensa…
¢O Diogo e a Andreia registam o estado do tempo…
¢O Tomás partiu um vidro e a professora vai ter que pedir a um vidraceiro…(porque não, a uma empresa vidraceira?!)…
¢A menina ajuda a mãe a fazer sumos e leva a bandeja
¢Faziam pratos femininos, com flores.
¢Até na festa de anos quem parte o bolo é a mãe.
¢As meninas vão às compras sempre com as mulheres da família
¢Nenhum professor (homem) nas dezenas de imagens!

quinta-feira, 9 de março de 2017

O ALUNO DO SÉCULO XXI

O documento sobre o perfil do aluno do século XXI deveria proporcionar um amplo debate e, pelo contrário, praticamente não transbordou para as comunidades, limitando-se às cúpulas e a alguma comunicação social.
Como entender este silêncio? Quem tem medo da mudança?
Por outro lado, nos círculos apertados onde o documento emanado do ministério até foi minimamente debatido, por exemplo, em alguns canais da TV ou em órgãos hierárquicos institucionais, a questão quase sempre descamba para o pragmatismo anacrónico dos manuais e do modo como se irá implementar a mudança. Parece que se pensa ainda na mudança legislada, fala-se em mais autonomia para as escolas e em outros aspectos práticos, como se se quisesse adiar a mudança!
Como no debate oitocentista do alargamento do sufrágio!... Primeiro, façamos cidadãos cultos que saibam entender bem a política e só depois lhes daremos o direito de voto!
Ora, a mudança implica tão simplesmente que, como disse o ministro da educação, as cabeças dos educadores (docentes ou encarregados de educação) deixem de hierarquizar saberes e ciências e deixem de falar em disciplinas difíceis e disciplinas fáceis, duras e moles!...
E aqui volto a invocar o século XIX, quando se achava que havia artes maiores e menores, ciências matematizáveis e as outras, saberes feitos e saberes incompletos, sendo estes nocivos…
Basta que em cada aula se mude as práticas e que não haja educadores arrivistas a pressionarem para a classificação; portanto, só faz falta muita e boa formação, tanto parental, como docente e, neste caso, reciclando os bafientos centros de formação.
Basta perceber que o ensinar e o aprender não são processos separados e que o saber não coincide com a informação, que o principal papel da escola é a motivação e que cada escola é e tem que ser um centro de formação permanente, que o trabalho colaborativo é muito mais do que a simples cooperação, que a supervisão horizontal é uma prioridade e que avaliar é muito mais do que classificar.
Enquanto um aluno que decora coisas conseguir ter melhor nota do que um aluno que se apropria do verdadeiro saber, enquanto esse aluno for formatado só para o que é necessário e não para o saber global, holístico e, necessariamente problematizante, inacabado, humanista, subjectivo …
De nada servirão os normativos e mais autonomia e projetos e actividades. Recicle-se apenas as cabeças!
Já no século XVIII Verney apelava a cabeças bem feitas, em vez de cabeças bem cheias!
Preparemos o aluno para o fluido e o imprevisto e muitas vezes basta ter em atenção o chamado currículo oculto, por exemplo, evitando a marcação de elementos formais de avaliação!
Introduzamos em cada aula a problematização e o pensamento crítico, sejamos docentes de matemática ou de filosofia!
Procedamos à verdadeira interdisciplinaridade, em vez de apenas perguntarmos apressadamente que temas são comuns a cada disciplina!
Aprofundemos a história local, mesmo sem ela estar no programa!
Apostemos nas competências, na mobilização de saberes, na capacidade de construir e de aprender…
Isso está na nossa mão, independentemente de mais autonomia, de novos manuais … eu diria mesmo, fim aos manuais! Podemos mudar o paradigma, mesmo com os mesmos programas, desde que se perceba o que é cumprir um programa e isso passa pela rejeição da visão quantitativa e atomística.
Apostemos no aluno, na crença de que não há os inteligentes e os não inteligentes. Só há os  motivados e os desmotivados! E a motivação que conta é a intrínseca...

Oiçamos Morin, Gardner e tantos outros!