IDADISMO, TECNICISMO E PANDEMIA
É curioso notar que a pandemia
veio acentuar o idadismo de que sofre esta sociedade, há algumas décadas. Contrariamente
ao que se passa nas sociedades ancestrais e sábias, que exaltam os mais velhos,
o chamado mundo ocidental, embalado numa onda de que a tecnologia é um Deus ex
machine, endeusa os jovens e a isto junta-se a mentalidade sindicalista que
pretende reformar rapidamente quem tem mais de 60 anos, para dar empregos aos
mais novos. Imagine-se, com o aumento da esperança de vida, ser velho aos 60
anos!
Claro que, como tenho 62 e sou
professora, com muito gosto e cheia de vontade de continuar, fico chocada com
esta pressão!
E o pior é que associam tudo isto
à pandemia e à necessidade de se apostar no ensino tecnológico! Sim, ensino
tecnológico mesmo!
No discurso, alguns destes
sabidões ainda têm alguns escrúpulos e lá vão dizendo que ensinar exige
pedagogia, apesar de se apelar sobretudo à tecnologia!
Outros, nem se dão a esse
trabalho do politicamente correto e dizem mesmo que o aluno aprende é com os
professores novos, que só estes compreendem as novas gerações e, além do mais,
são peritos em novas tecnologias!
Só falta alegarem que têm mais
habilitações, só porque se mudou a terminologia e hoje, em Portugal, chama-se
licenciatura ao 1º ciclo e mestrado, ao 2º!
Assisti a dezenas de Webinares, de Editoras e de empresas
mascaradas de ensino universitário, que querem vender cursos a jovens professores,
ávidos de uma imensa variedade de plataformas, que proporcionem as melhores
videoconferências e os melhores testes autocorrigíveis, de modo a que, na
crença de que mais é mais, possam
fascinar os alunos, impressionando-os com tanta modernice!
Havia colegas que perdiam os
primeiros 10 minutos a dizerem «bom dia» ou «boa tarde» e a confessarem o seu
fascínio por tais oportunidades e, ao longo de cada Webinar, recorriam ao chat – quais alunos alienados com a
necessidade de comunicarem sincronamente! – para agradecerem ao orador,
elogiando «novidades» como «o aluno deve ter sempre um feed back atempado» e
outras verdades de Lineu que nada têm a ver com o ensino@distância, mas, tão
só, com ensinar e aprender, antes e depois das novas tecnologias!
E este é apenas um dos exemplos
que, quanto a mim, comprovam quão úteis podemos ainda ser os ditos professores
velhos!...
Até o Expresso de hoje (E, 7-8) faz a apologia do Idadismo.
Talvez os jovens jornalistas achem bem os velhos e bons jornalistas estarem na prateleira há décadas!