A História sempre comprovou que,
após uma crise, a mudança triunfa e, mesmo os mais céticos, acabam por ter que
se render.
Sinto, com satisfação, que esta
pandemia, apesar de todos os perigos e incómodos que trouxe, desmistificou, em
tempo record, os anti corpos contra o ensino a distância e aqueles que o viam como
parente menor, mudaram o discurso e a prática.
No entanto, pressinto que ainda
predomina a ideia tecnicista e parece que a metodologia e a pedagogia continuam
muito baseadas na aula expositiva e síncrona.
Ora, mesmo sem pandemia, isto
seria grave. Com a situação atual, em que famílias inteiras estão em casa,
muitas vezes sem espaços adequados e sem computadores para todos, seria
catastrófico. Seria desigual e anti democrático, além de anti pedagógico.
O ensino a distância só trará
benefícios se for muito planeado e se, tanto os professores, como os alunos
mudarem os seus hábitos: aqueles, abandonando a aula conferência, planificando aulas
assíncronas e dinâmicas, focadas no aprender, no pesquisar, no auto aprender,
atendendo às especificidades e às dúvidas de cada aluno; estes, organizando o
seu estudo como um processo gradual, em que o chamado TPC seja substituído pelo
estudar as aulas e seguir as diretrizes diárias dos professores, sem acumular «matéria»
para estudar de empreitada para os testes. Todos vamos descobrir as
potencialidades de outros meios de avaliação.
Os encarregados de educação também
terão que mudar de hábitos e, em vez de perguntarem aos seus educandos se já
fizeram os TPC, perguntem: já cumpriste as dicas das aulas de hoje? Já
pesquisaste sobre os temas abordados hoje? Colocaste dúvidas nos fóruns? Interagiste
com os colegas e com os professores sobre os assuntos em estudo? E, em vez de
ajudarem, devem incentivá-los a trabalharem autonomamente. Em vez de encherem a
boca com testes, datas de testes, idas a explicadores (que tenderão a
desaparecer, por se tornarem desnecessários), devem mudar o discurso para o dia
a dia, focando-o mais no aprender do que no avaliar/classificar.
Só assim poderemos aproveitar
esta conjuntura para acelerar uma mudança que teimava em atrasar-se. Só assim a
conjuntura pode dar lugar a uma mudança na estrutura.