terça-feira, 31 de março de 2020


A PANDEMIA E AS MUDANÇAS NA PRÁTICA LETIVA



A História sempre comprovou que, após uma crise, a mudança triunfa e, mesmo os mais céticos, acabam por ter que se render.
Sinto, com satisfação, que esta pandemia, apesar de todos os perigos e incómodos que trouxe, desmistificou, em tempo record, os anti corpos contra o ensino a distância e aqueles que o viam como parente menor, mudaram o discurso e a prática.
No entanto, pressinto que ainda predomina a ideia tecnicista e parece que a metodologia e a pedagogia continuam muito baseadas na aula expositiva e síncrona.
Ora, mesmo sem pandemia, isto seria grave. Com a situação atual, em que famílias inteiras estão em casa, muitas vezes sem espaços adequados e sem computadores para todos, seria catastrófico. Seria desigual e anti democrático, além de anti pedagógico.
O ensino a distância só trará benefícios se for muito planeado e se, tanto os professores, como os alunos mudarem os seus hábitos: aqueles, abandonando a aula conferência, planificando aulas assíncronas e dinâmicas, focadas no aprender, no pesquisar, no auto aprender, atendendo às especificidades e às dúvidas de cada aluno; estes, organizando o seu estudo como um processo gradual, em que o chamado TPC seja substituído pelo estudar as aulas e seguir as diretrizes diárias dos professores, sem acumular «matéria» para estudar de empreitada para os testes. Todos vamos descobrir as potencialidades de outros meios de avaliação.
Os encarregados de educação também terão que mudar de hábitos e, em vez de perguntarem aos seus educandos se já fizeram os TPC, perguntem: já cumpriste as dicas das aulas de hoje? Já pesquisaste sobre os temas abordados hoje? Colocaste dúvidas nos fóruns? Interagiste com os colegas e com os professores sobre os assuntos em estudo? E, em vez de ajudarem, devem incentivá-los a trabalharem autonomamente. Em vez de encherem a boca com testes, datas de testes, idas a explicadores (que tenderão a desaparecer, por se tornarem desnecessários), devem mudar o discurso para o dia a dia, focando-o mais no aprender do que no avaliar/classificar.
Só assim poderemos aproveitar esta conjuntura para acelerar uma mudança que teimava em atrasar-se. Só assim a conjuntura pode dar lugar a uma mudança na estrutura.